sexta-feira, 20 de maio de 2011

ESPECIAL SÃO LUIS - Lendas, crendices e miscitismo

Iniciamos nossa série especial sobre o estado do Maranhão, especialmente sobre a capital São Luis, abordando um pouco do misticismo, das crenças e lendas daquele povo. Que em breve estará sendo contado na Marquês de Sapucaí, pela Deusa da Passarela!





Carruagem de Ana Jansen.
Poderosa e discutida matrona maranhense de marcante presença na vida econômica, social e política de São Luís no século XIX, Ana Jansen ficou conhecida na cidade pela desumanidade e maus tratos que, segundo rumores, aplicava a seus escravos. Conta a lenda que os noctívagos da cidade, ao pressentirem a aproximação de uma horrenda carruagem penada, fugiam aterrorizados, à procura de um abrigo seguro. Se assim não fizessem, estariam sujeitos a receber a alma penada de Ana Jansen, uma vela acesa que amanheceria transformada em osso de defunto. Dizem ainda que o coche era puxado por cavalos decapitados, conduzidos por um escravo também decapitado e com o corpo sangrando. Por onde passava, horripilantes sons eram ouvidos, que pareciam resultantes da combinação de atrito de velhas e gastas ferragens com o coro de lamentações dos escravos.




Lenda da Manguda.
No final do século XIX, um fantasma assombrava a região onde hoje fica a Praça Gonçalves Dias. Era a Manguda, cujos relatos mais remotos dão conta de tratar-se de uma figura alva como um lençol e com uma estranha luz na cabeça. Embora tenha feito muita gente correr, descobriu-se mais tarde que o famoso fantasma não passava de fraude. A brincadeira de mau gosto foi na verdade invenção de contrabandistas, com o objetivo de expulsar curiosos das ruas enquanto cometiam seus crimes.



Lenda da Serpente de São Luís.
Conta-se que uma serpente encantada, que cresce sem parar, um dia destruirá a ilha, quando a cauda encontrar a cabeça. O animal gigantesco habitaria as galerias subterrâneas que percorrem o Centro Histórico de São Luís e, embora seu corpo descomunal esteja em vários pontos da cidade (a barriga na Igreja do Carmo, a cauda na Igreja de São Pantaleão), o endereço mais certo do bicho é a secular Fonte do Ribeirão. Há quem garanta ser possível observar, através das grades que isolam as entradas do monumento, os terríveis olhos do animal.



Milagre de Guaxenduba.
Conta-se que no principal combate travado entre portugueses e franceses, no dia 19 de novembro de 1614, no forte de Santa Maria de Guaxenduba, quando os portugueses estavam por ser derrotados por sua inferioridade de homens, armas e munições, surgiu entre eles uma formosa mulher envolta em auréola resplandecente. Ao contato de suas mãos milagrosas, a areia era transformada em pólvora e os seixos em projéteis, fazendo com que os portugueses se revigorassem moralmente e derrotassem os franceses. Em memória deste feito, foi a virgem considerada a padroeira da cidade, sob a invocação de Nossa Senhora da Vitória.

Lenda da praia do Olho d' Água.
Conta-se que inicialmente houve ali uma aldeia indígena cujo chefe era Itaporama. Sua filha apaixonou-se por um jovem da tribo, mas este, por ser muito bonito, provocou paixão de mãe d'água que, através de seus poderes, conquistou-o e levou-o para seu palácio encantado nas profundezas do mar. Perdendo para sempre seu grande amor, a filha de Itaporama caiu em grande desolação, deixando de se alimentar e indo para a beira do mar chorando até morrer. De suas lágrimas surgiram duas nascentes que até hoje correm para o mar e que deram origem à denominação da praia. 




Lenda do Palácio das Lágrimas.

Na rua 13 de maio, em frente a Igreja São João e no canto com a rua da Paz havia um casarão de três pavimentos. Sobre o imóvel foram inventadas várias lendas, das quais se destaca a seguinte: Dois irmãos portugueses vieram ao Maranhão para buscar riqueza. Um deles conseguiu enquanto o outro jamais saiu da pobreza. Cheio de inveja, o irmão pobre resolveu assassinar o outro a fim de herdar a grande fortuna, já que o irmão rico vivia amasiado com uma escrava e não tinha filhos legítimos, já que seus filhos eram fruto de uma união ilegal. Após o assassinato e de posse dos bens herdados, passou a tratar os escravos, inclusive a ex-mulher do irmão e seus filhos, com extrema crueldade. Certo dia, quando um de seus sobrinhos descobriu que fora ele o assassino de seu próprio irmão, matou-o, após arremessá-lo de uma das janelas do sobrado. Descoberto o crime, e por ser escravo, seu autor foi condenado a morte na forca levantada em frente ao sobrado. No momento do enforcamento, o condenado amaldiçoou o sobrado com essas palavras "Palácio que viste as lágrimas derramadas por minha mãe e meus irmãos. Daqui por diante serás conhecido como palácio das lágrimas". E assim o sobrado passou a ser chamado.

Lenda do rio Cajari.
Certo dia, um índio estava à espreita de uma caça, quando surgiu em sua frente, uma gigantesca ave de nome Ararapapá. Sem perder tempo, o índio flechou a enorme ave e colocou-a no ombro, rumando para a sua aldeia. No caminho, o bico da ave, que era muito pesado, veio arrastando pela terra abrindo um sulco profundo por onde as águas do lago Viana escorreram, dando origem ao rio Cajari.

O Milagre de São João Batista.
Contam-se da invasão holandesa do Maranhão, em 1641, histórias de desrespeitos à população e de profanações, a primeira das quais, praticada logo no desembarque pelo Desterro, cuja ermida, então de frente para o mar; os flamengos teriam invadido e depre dado. Quando, após mais de dois anos de dominação, os portugueses, com o bravo concurso de índios e outros homens da terra, organizaram a revolta que terminaria expulsando definitivamente do Maranhão os enviados de Nassau, travaram-se diversos e rudes combates no interior e em São Luís. Aqui, sob o comando de Antônio Muniz Barreiros, que, morrendo, teve em Antônio Teixeira de Melo o competente e indispensável sucessor; as tropas portuguesas fizeram da Igreja do Carmo seu quartel-general. Lá, concentraram a ofensiva contra os hereges flamengos, como ao tempo se dizia. Os holandeses, sediados no Forte de São Filipe (onde hoje está o Palácio dos Leões), contavam, como principais instrumentos de combate, com dois canhões assestados para a Igreja do Carmo. Notando que a artilharia portuguesa concentrava seu fogo na direção dessas armas, os holandeses colocaram junto a elas, em lugar bem visível, uma grande imagem de São João Batista. Pretendiam impedir que os portrugueses atirassem, ou obrigá-los a, fazendo-o, cometer um sacrilégio que os atingiria moralmente. Diz Frei Francisco de Nossa Senhora dos Prazeres Maranhão, na Poranduba maranhense, que "não só a imagem ficou ilesa dos nossos tiros, mas também no primeiro que disparou um dos referi dos canhões, rebentou com tantos estragos daqueles iconoclastas, que, ficando confusos com semelhante sucesso, retiraram logo a santa imagem com menos indecência.


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